Depois de um episódio em que o trap foi colocado contra o funk, hoje paramos para refletir se há uma relação entre os dois gêneros, mais do que isso, veremos a influência que um exerce sobre o outro.
Hoje, o funk e o trap brasileiro são dois gêneros que, apesar de terem origens distintas, se entrelaçam de maneira única na música nacional.
Mas como o funk carioca, um estilo de vida que surgiu nas favelas do Rio de Janeiro, pôde influenciar o trap, que tem raízes nos subúrbios dos EUA?
Não é segredo que no Brasil, essa mistura criou um estilo vibrante, que reflete a realidade das periferias e conquistou o público jovem.
Trap x Funk: uma breve contextualização
Antes de tudo, importante mencionar que ambos os gêneros musicais têm suas próprias raízes.
Enquanto o funk nasceu e se consolidou inicialmente no Brasil, entre 1960 e 1980, se caracterizando como um estilo periférico, e inicialmente, com temáticas de cunho social.
O trap, por outro lado, nasce em Atlanta, na década de 90. Este gênero, por sua vez, segue a linhagem do gangsta rap, gênero impulsionado por nomes como N.W.A., Dr. Dre e Ice-T.

E como estes dois estilos se entrelaçam hoje no Brasil? Vamos entender isso um pouco melhor a seguir!
Batidas e Produção
É um fato que ambos os gêneros compartilham algo em comum: a bateria digital, que no funk, foi introduzida nos anos 80 pelo Dj Marlboro.
De fato, um dos nomes que mostrou uma possível união de sucesso entre os ambos gêneros foi WC no Beat.
Produtor lendário no rap, artista da Medellin Records, em 2018, lançou um trabalho que nem ele talvez esperasse que ditaria uma nova linha de possibilidade = o trapfunk.
Uma das faixas mais icônicas, sem dúvida, é “Meu Mundo”, onde ocorre um grande união entre artistas do rap e funk, com a participação de Mc Cabelinho, PK, Mc Hariel & Orochi.
Vendo o sucesso do gênero que foi abraçado por um público sedento pelo novo, o produtor lançou o álbum “18K”, de 2018 também.
Daí em diante, o gênero aflorou. Não que não existisse antes, mas este foi um dos projetos que mostrou a possibilidade de fusão entre os dois gêneros.
Letras e Estética
O funk, hoje é conhecido pela sua irreverência nas letras. O trap também vai por este caminho, não por menos, alguns artistas de funk se sentiram em casa em cima de um beat e autotune na voz.
Dessa forma, o rap no Brasil, que vinha de uma linhagem lírica forte talvez não tenha sido o maior referencial para as letras do trap.
Por outro lado, ao olha para o gênero periférico de maior sucesso no país, ficou muito claro o caminho pelo qual o trap poderia seguir.
Mas é importante fazer um destaque: o funk não influencia a cena de trap da mesma forma em todo o Brasil.
Vamos usar dois exemplos para ilustrar isso de modo simples: o trap em São Paulo se encontrou na tradução do que Travis Scott, Lil Wayne, Thug entre outros nomes apresentaram como trap.
No entanto, o Rio de Janeiro, que inicialmente se viu seguindo o mesmo caminho, precisou de pouco tempo para entender qual rumo tomaria.
Projetos como a gravadora UCLÃ mostram muito bem isso. Mas não demorou muito e nomes como MC Cabelinho, começaram a exalar a essência do funk no trap.
Com isso, o tempo foi trazendo nomes como TZ da Coronel, MD Chefe, entre outros.
A diferença dessa linhagem é que são artistas que compartilham a realidade do funk, ouviram e cantaram funk, entretanto, traduziram o que tinham de referência, em um beat de trap.
Hoje, artistas como Oruam, Poze do Rodo, Kayblack, Vulgo FK, Hariel, se destacam no gênero. E não se trata de fazer trapfunk, é um trap, mas com elementos do funk ─ importante pontuar isso.
Por fim, o funk está cada vez mais presente no trap e é inegável que um gênero responsável por aquecer os ouvidos da sociedade para a arte periférica.
Assim, não é de se estranhar que ambos os gêneros continuem se cruzando nos próximos anos, culminando sempre em algo inovador para o público.