A tão aguardada colaboração entre o gigante do Queensbridge e o produtor lendário finalmente se concretizou em 2025. Uma análise recente aponta que, apesar do sucesso comercial da parceria com Hit-Boy, é nas batidas sujas de Preemo que a lírica de Nas encontra seu verdadeiro lar.
Durante décadas, o Santo Graal do Hip Hop foi um álbum colaborativo completo entre Nas e DJ Premier. Desde que a agulha tocou o vinil em “N.Y. State of Mind” em 1994, fãs ao redor do mundo clamavam por um projeto que unisse a caneta mais afiada de Nova York com o arquiteto definitivo do som boom bap. Em 2025, esse desejo se materializou com o lançamento de “Light Years”. No entanto, a chegada da obra inevitavelmente acendeu um debate na comunidade: como este projeto se compara à prolífica e premiada corrida de seis álbuns que Nas teve ao lado do produtor Hit-Boy entre 2020 e 2023? Uma análise aprofundada publicada pelo portal Hip Hop Golden Age sugere que, embora Hit-Boy tenha revitalizado a carreira de Nas, é com DJ Premier que o rapper atinge a transcendência artística.
A parceria entre Nas e Hit-Boy, que gerou as trilogias “King’s Disease” e “Magic”, foi inegavelmente histórica. Ela trouxe a Nas seu primeiro Grammy, apresentou uma sonoridade polida, moderna e versátil, e provou que um MC veterano poderia manter uma consistência de lançamentos invejável. Contudo, críticos apontam que a limpeza técnica e a abordagem às vezes excessivamente orquestrada de Hit-Boy, embora eficazes, por vezes colocavam Nas em uma zona de conforto contemporânea. “Light Years”, por outro lado, rompe com essa estética limpa. O álbum é descrito como uma volta à essência crua, onde a produção não tenta competir com a voz, mas sim criar o alicerce de concreto rachado sobre o qual as rimas de Nas podem caminhar com peso.
A grande diferença apontada entre as duas fases reside na textura e na atmosfera. Enquanto a era Hit-Boy foi marcada por uma celebração da vitória, do luxo e do legado empresarial de Nas, o projeto com DJ Premier mergulha em uma introspecção mais densa. As batidas de Preemo, características por seus cortes de samples obscuros, linhas de baixo pesadas e os inconfundíveis refrões com scratches, evocam uma urgência que parecia adormecida. Não se trata apenas de nostalgia ou de tentar recriar o “Illmatic”; é sobre a química telepática de dois mestres que entendem o tempo e o silêncio da mesma forma. Em “Light Years”, Nas não precisa adaptar seu flow para soar atual; a batida se molda à sua cadência natural, criando uma simbiose que soa mais orgânica do que qualquer momento da discografia recente.
Outro ponto levantado pela crítica especializada é a coesão narrativa. Os álbuns produzidos por Hit-Boy funcionavam muitas vezes como coletâneas de excelentes músicas, com momentos de brilho pop e faixas de rádio. Já o trabalho com Premier é construído como uma peça única, cinematográfica e sombria. Há uma sensação de perigo e realidade nas faixas que remete aos tempos áureos do rap dos anos 90, mas com a perspectiva de um homem de 50 anos que sobreviveu para contar a história. A produção de Premier em “Light Years” desafia Nas a ser mais lírico, mais complexo e menos preocupado com a acessibilidade do refrão, resultando em versos que estão sendo considerados alguns dos melhores de sua carreira pós-2000.
É importante reconhecer o papel fundamental que Hit-Boy desempenhou. Sem a injeção de ânimo e a disciplina de estúdio que ele trouxe, talvez Nas não estivesse em forma técnica para entregar o que entregou agora. A era “King’s Disease” limpou o caminho e preparou o terreno. No entanto, “Light Years” chega para ocupar um espaço emocional diferente. Ele satisfaz a alma do purista do Hip Hop de uma maneira que a produção digital e cristalina de Hit-Boy jamais conseguiria. O álbum prova que, embora Nas possa soar ótimo em qualquer batida, ele soa lendário quando respaldado pela arquitetura sonora de DJ Premier.
No final das contas, a comparação serve menos para diminuir o trabalho de Hit-Boy e mais para exaltar a singularidade de DJ Premier. Em um mercado saturado de loops prontos e melodias sintéticas, “Light Years” reafirma o valor do digging, da sujeira do vinil e da batida quebrada. Para o Hip Hop Golden Age e para boa parte da crítica, a conclusão é clara: a era Hit-Boy foi uma corrida vitoriosa, mas a união com DJ Premier é um marco cultural que brilha com uma luz própria, ofuscando até mesmo os sucessos recentes e garantindo que o legado de Nas permaneça intocável no panteão da música urbana.










