Membro fundador dos Racionais MC’s revisita seu segundo álbum solo em um movimento duplo que une o mercado de colecionadores de discos e a moda streetwear, reafirmando o legado da cultura preta e periférica.
A trajetória de Edi Rock sempre foi pautada pela construção de bases sólidas, e o final de 2025 traz a confirmação de que seu trabalho solo possui a mesma perenidade de sua atuação nos Racionais MC’s. O rapper acaba de anunciar uma expansão significativa do universo do álbum “Origens”, lançado originalmente em 2019. O projeto ganha agora novos contornos com o lançamento de uma edição de luxo em vinil, viabilizada pela Três Selos Rocinante, e uma colaboração de moda exclusiva com a marca Cavalera. A iniciativa reforça que, para além do hype momentâneo das redes sociais, o fundamento da rua permanece como o principal motor criativo do artista.
O álbum, que marcou um momento de diversificação sonora na carreira de Edi, chega às vitrolas em um formato pensado para o colecionador exigente. A nova edição do LP apresenta o disco prensado em vinil de 180 gramas na cor marfim, garantindo uma fidelidade sonora superior. O pacote físico não economiza nos detalhes: acompanha uma capa simples com acabamento premium, um pôster exclusivo, obi (cinta lateral informativa comum em edições japonesas) e um encarte recheado com as letras e um texto crítico assinado pelo jornalista e pesquisador musical Bento Araújo. A curadoria da Três Selos Rocinante busca posicionar “Origens” não apenas como um produto fonográfico, mas como um documento histórico do rap contemporâneo.
Visualmente, o projeto é um manifesto por si só. A capa, desenvolvida pelos artistas Alexandre Keto e Javier Salazar, funciona como um mural da resistência negra, conectando o Brasil ao cenário global. A arte estampa figuras que pavimentaram o caminho para que o rap pudesse existir e prosperar, incluindo Zumbi dos Palmares, Dandara, a ativista Marielle Franco, o líder Martin Luther King, o Rei Pelé, a lenda do samba Dona Ivone Lara, além de ícones da cultura Hip Hop como DJ Hum e Thaíde. É uma representação gráfica que dialoga diretamente com o conceito do disco: olhar para o passado para entender o lugar que se ocupa no presente.
Musicalmente, “Origens” se destaca pela ousadia de Edi Rock em romper as fronteiras tradicionais do rap paulista. Ao longo de 13 faixas, o “Mágico de Oz” do Capão Redondo costura rimas com gêneros que vão do samba ao soul, passando pelo funk, R&B e até influências do sertanejo e folk. Essa pluralidade se reflete na lista de participações, que inclui nomes de peso e de diferentes espectros musicais, como Xande de Pilares, Rael, MC Pedrinho, Alexandre Carlo (Natiruts), Jan Session, Simone Brown e Lauana Prado. Faixas como “Sonhos em Construção”, “Corre Neguin” e “Vi Brilhar” ganham, na rotação do vinil, uma nova textura, permitindo que o ouvinte capte as nuances da produção que talvez passem despercebidas no streaming.
Paralelamente ao lançamento do disco, a moda se apresenta como outra frente de celebração deste legado. A Cavalera, marca que historicamente dialoga com a música urbana e o rock, uniu-se a Edi Rock para uma collab inspirada na estética e na mensagem do álbum. Sob o lema “Antes do hype, veio a rua; antes da moda, veio a mensagem”, a coleção busca traduzir em vestuário a identidade de luta e verdade que o rapper carrega. A parceria enfatiza que o estilo no Hip Hop não é apenas cosmético, mas uma extensão da atitude e do discurso político do artista.
A disponibilidade imediata do vinil e o anúncio da coleção de roupas encerram o ano consolidando Edi Rock como um artista multimídia que entende o valor de sua marca. Enquanto o mercado muitas vezes busca a novidade efêmera, o rapper aposta na densidade de sua obra, tratando “Origens” como um clássico moderno que merece ser revisitado, tocado e vestido. Para os fãs, é a oportunidade de ter em mãos um pedaço da história do rap nacional, materializado com o respeito e a qualidade que a cultura de rua exige.
