O grupo de rap Realidade Cruel teve um show cancelado após sofrer acusações infundadas de apologia ao crime. A resposta frente ao ocorrido, foi a revolta entre fãs e artistas da cena.
O episódio, que ocorreu em uma cidade do interior, expôs mais uma vez a fragilidade da liberdade artística no Brasil.
Com isso, é difícil não pensar na recente investida do governo contra o movimento, com o projeto de lei anti-Oruam.
Pressão política e ação policial levaram ao cancelamento
De acordo com o vocalista Tuca Lélis, a apresentação estava certa. No entanto, após a repercussão do evento, o local que receberia o show passou a ser alvo de visitas policiais.
A prefeitura teria orientado o espaço a cancelar a apresentação, sob a alegação de que o grupo pertenceria a uma facção criminosa e promovia o crime por meio de suas letras.
Sem garantias de segurança e temendo por sofrer censuras futuras, o contratante optou pelo cancelamento.
“Ele ficou envergonhado, chegou a chorar pedindo desculpas. Mas entendemos. Optamos por preservá-lo”, afirmou Tuca.
De todo modo, os outros shows do grupo continuam confirmados, e você pode conferir a agenda completa, no perfil do Instagram do grupo.

Censura e criminalização da arte periférica
O caso do Realidade Cruel não é isolado. Grupos de rap que abordam temas como violência policial, desigualdade social e abandono das periferias sabem que estão na mira de represálias.
Contudo, a criminalização da cultura periférica ganha corpo em decisões como esta, onde o simples conteúdo crítico passa a ser “ameaça à ordem”.
Esse tipo de censura velada — sem processo, sem investigação, apenas baseada em estigmas — é reflexo de um sistema que ainda marginaliza o que vem da favela e da quebrada.
A Lei Anti-Oruam e o risco do silenciamento institucional
Como citamos inicialmente, é difícil não pensar no projeto de lei anti-Oruam, que visa proibir artistas que fazem apologia ao crime de receberem dinheiro público para apresentações.
Uma das questões que se levanta é se este projeto não serve como pano de fundo para um tipo de episódio como este do Realidade Cruel.
A legislação, ao permitir interpretações amplas e subjetivas, oferece brecha para que manifestações culturais sejam barradas com base apenas em suspeitas ou preconceitos.
A consequência é o chamado “efeito inibidor”: contratantes e produtores evitam trazer artistas periféricos por medo de punições legais, mesmo que não haja qualquer infração concreta.

O resultado é o enfraquecimento da liberdade de expressão e a perpetuação de uma cultura que só valoriza o que não incomoda.
A liberdade cultural está em risco?
O cancelamento do show do Realidade Cruel levanta um alerta urgente: a arte que denuncia estaria sendo silenciada?
Uma vez que, o rap alcançou um patamar de influência nacional ─ sobretudo, com o trap ─ é de se esperar uma retaliação, seja ela do mercado, da política ou parte da sociedade.
E se não houver resistência? Bem, iniciativas como a Lei Anti-Oruam e outras medidas similares podem transformar o cenário cultural brasileiro, de um modo negativo.
Por isso, é importante acompanhar as atualizações em torno da cena do hip hop, e você conta com as novidades que trazemos diariamente aqui, no Mundo da Rua.